terça-feira, 5 de abril de 2011

Passagem da Noite




É noite.Sinto que é noite
não porque a sombra descesse
(bem me importa a face negra)
mas proque dentri de mim
no fundo de mim,o grito
se calou,faz-se desânimo.Sinto que nós somos noite,
que palpitamos no escuro
E em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento,
Noite nas águas,na pedra.
E que adianta uma lâmpada?
E que adianta uma voz?

É noite no meu amigo,
É noite no submarino,
É noite na roça grande,
É noite,não e morte,é noite
de sono espesso e sem praia.
Não é dor,nem paz,é noite,
Éperfeitamente a noite.

Mas salve,olhar de alegria!
E salve,dia que surge!
Os corpos saltam de sono,
O mundo se recompõe.
Que gozo na bicicleta!
Existir:seja como for.
A fraterna entrega do pão.
Amar:mesmo nas canções.
De novo andar:as distâncias,
As cores,posse das ruas.
tudo que á moite perdemos
se nos confia outa vez.
Obrigado,coisas fiéis!
Saber que ainda há florestas,
Sinos,palavras;que a terra
Prossegue seu giro,e o tempo
Não murchou;não nos diluimos1
Chupar o gosto do dia !
Clara manhã,obigado,
O essencial é viver!

(Carlos Drummond de Andrade).



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